Manifesto 2.0

Muito se fala no mundo 2.0 – empresa 2.0, web 2.0, trabalhador (worker) 2.0. O termo Web 2.0 é utilizado para definir uma nova etapa da World Wide Web, que reforça os conceitos de colaboração dos internautas e oferta de serviços on-line.

Esse novo mundo 2.0 é espelhado através da informação orgânica, registro da inteligência coletiva, das decisões das pessoas instituições e do relacionamento profissional. É a prova da ação humana e o registro de suas atividades nos processos.

Tanto é de fato que a gestão de conhecimento corporativo, por exemplo, hoje registra o que está acontecendo entre as pessoas nas empresas e entre elas e as próprias instituições, através da história oral em projetos e o registro da tomada de decisão só para citar dois.

Mais que nunca o e-mail hoje é o documento mais importante nas empresas, é uma evidência sempre considerada. Além do mais, a colaboração corporativa, onde os individuos relacionam-se numa comunidade virtual realizando determinado tipo de troca de informações, atividade, processo ou trabalho é hoje o destaque no mercado corporativo. Leia Wikinomics e saberá porquê.

Essas novas atividades de geração de informação também geraram novos perfis de pessoas: os proconsumers, aqueles que produzem e consomem conteúdo e informações. Essa relação se dá em arenas de relacionamento que utilizam ferramentas de web 2.0, como os blogs, wikis, microblogs, ambientes de troca de arquivos. Aqui o arquivista 2.0 deve pensar na classificação e estruturação da informação, além da própria temporalidade, pois no ambiente digital sempre temos de lembrar da preservação digital e do tamanho limitado dos servidores para registar as informações.

O arquivista 2.0 deve entender essa informação orgânica e ver o que se deve fazer com o conteúdo gerado nos blogs e wikis da vida e nas ferramentas de interação humana no mundo digital. E como é o versionamento de conteúdo num documento gerado num workflow colaborativo? E a classificação/indexação e o descarte? Ainda temos de pensar no acesso, armazenamento e busca desses conteúdos.

E o que fazer com as redes sociais, as discussões registradas nos tópicos de fórum? E a folksonomia (a etiquetagem de informação realizada pelos próprios usuários), serve só para o usuário ou tem um sentido mais amplo, pode ser adequado a outros usuários? Temos de pensar cada vez mais na relação direta e orgânica das pessoas e das informações, só possível nos ambientes digitais.

E os famosos metadados? Objeto de estudo nas faculdades e objeto de trabalho para quem trabalha com informações digitais. O projeto internacional Interpares de Luciana Duranti, tocado por arquivistas no mundo todo e que busca, por exemplo, trabalhar a validação e autencidade das informações digitais preocupa-se com isso há muito tempo.

Isso não deve ser uma novidade para nós arquivistas, profissionais responsáveis pelas informações orgânicas – aquelas geradas nas decisões e explicitadas em registros -, na verdade esse novo comportamento 2.0 já havia sido pensado desde o início da web, todo mundo trabalhando em rede, trocando informações de forma multifacetada. A invenção de Tim Berners-Lee a WWW, era para possibilitar que ele, através de um protocolo de troca de informações (TCP/IP) e algo que só existia na teoria – o hiperlink textual – conseguisse trabalhar de forma colaborativa com outros cientistas.

Por isso me pergunto: todo mundo sabe o conceito clássico de documento (salve Schelemberg!)… mas olhado ali na frente, ali na esquina com a realidade posta de virtualização e digitalização da informação me pergunto – o que é documento? Devemos rever seu conceito como, por exemplo, se revê hoje os direitos autorais? Com certeza esse deve ser um ponto de atenção para os arquivistas 2.0 -)